Entrevista – Ayala Botto conta-nos sobre o seu percurso e a Sustentabilidade

Nasceu em Lisboa, cidade das sete colinas, mas o escutismo fez com que a sua ligação e fascínio pela Natureza começasse desde muito cedo. Neste artigo, entrevistamos Ayala Botto, formado em Biologia da Conservação, Educador no Centro Pedagógico do Jardim Zoológico, e mais recentemente, influenciador nas redes socias no âmbito da Sustentabilidade. 

Fala-nos um pouco sobre a tua preocupação pela sustentabilidade. Sempre existiu ou houve um ponto de viragem?

Desde muito jovem que tenho entusiasmo em saber mais sobre os animais e as plantas e gosto em perceber como é que eles “funcionam”. Era algo que me fascinava! Não sabia bem o que era ser biólogo, mas sabia que era o que queria ser quando fosse grande. Não havia grandes dúvidas — talvez não as houvesse por não conhecer o que implicava a profissão — mas este interesse foi aguçado no escutismo, pelas atividades feitas em campo e pelas noites fora no meio da natureza.

Fui crescendo, e o meu conhecimento e fascínio na área também. É-me difícil indicar um momento em que passei a preocupar-me mais pelo tema, mas sem dúvida que a minha entrada para a equipa do Centro Pedagógico do Jardim Zoológico de Lisboa me fez acreditar no poder da educação para um mundo mais sustentável.

Quais são para ti as maiores ameaças ambientais e em que medida é que as podemos resolver?

Quando falamos em sustentabilidade, estamos a falar de 3 grandes pilares: social, económico e ambiental. Será difícil resolvermos as questões ambientais sem trabalharmos também as outras dimensões da sustentabilidade. Se tiver que sublinhar ameaças ambientais, diria, sem dúvida, o aquecimento global e a consequente perda de habitats e de biodiversidade.

Peço-vos que imaginem um jogo de jenga, onde as peças vão sendo retiradas uma a uma. A certa altura a estrutura começa a ficar instável e eventualmente cai. É o que neste momento está a acontecer com os ecossistemas. A perda de biodiversidade acontece todos os dias, potenciada pela ação humana. Todavia, nós temos o poder de colocar mais peças de jenga na estrutura. Só temos que cumprir uma regra: Repensar e Reduzir o nosso consumo.

Destacaria a necessidade de Reduzir a nossa utilização de combustíveis fósseis, de Reduzir o nosso consumo de carne e de peixe e de Reduzir as nossas compras de produtos têxteis.

Consideras-te parte ativa nesta mudança de comportamento em que todos temos um papel? Em que projetos estás envolvido nesta temática?

Gostaria de reforçar a vossa afirmação: Todos temos um papel. É preciso compreender isto — este é um problema de todos e a solução passa também por cada um de nós. Todos podemos (devemos) ser parte ativa nesta mudança de comportamentos, e esta mudança passa pela Educação.

Só conhecendo a real dimensão dos problemas, sem sensacionalismos e ouvindo a ciência, é que juntos podemos pensar nas soluções a implementar. Na minha conta Instagram | @ayalabotto | é o que tento fazer: criar a ponte entre a comunidade científica e a comunidade que me acompanha, trazendo-lhes informações de fontes credíveis para que conheçam a realidade.

Quero mostrar-lhes as mudanças que precisam de ser feitas para que tenhamos uma menor pegada ambiental. Mudanças fáceis e adaptáveis à vida de cada um, porque não precisamos de ser perfeitos, mas precisamos de mudar os nossos comportamentos. Quero ajudá-los a fazer esta mudança da forma mais fácil possível.

Consideras que Portugal é um país que está a dar os passos necessários? Podemos fazer melhor? Se sim, como?

Portugal está a ir pelo caminho certo. Cada vez há mais conhecimento sobre o tema e mais pressão por parte do consumidor para que as grandes indústrias forneçam produtos ou serviços mais sustentáveis. Claro que há espaço para melhorar, como em todo o lado, mas estamos encaminhados.

Precisamos de fazer esta transição de uma forma muito mais rápida, falar dos assuntos que realmente importam e focarmo-nos nas soluções. Enquanto cidadãos, não podemos estar à espera que o poder político mude enquanto nós não mudamos. Este é um trabalho conjunto.

Temos que pressionar os políticos, usar o nosso voto e fazer ativismo.  Como? Tomando uma decisão que influenciará uma política da empresa, partilhando uma opinião durante uma reunião com os nossos colegas de trabalho, falando sobre os problemas na mesa do café com os nossos amigos ou ao jantar com a nossa família. Temos que atuar dentro da nossa comunidade.

Que conselhos darias a uma pessoa que começou agora a despertar para a necessidade de ter uma visa mais sustentável? Aconselhas algum documentário ou livro?

Procurar (boa) informação é o primeiro passo. A educação é a chave do sucesso. Precisamos de conhecer a realidade que enfrentamos para sabermos como lidar com ela. Temos que nos informar em fontes cientificas e fidedignas sobre as problemáticas e focarmo-nos sempre nas soluções. Recomendo o documentário David Attenborough: A Life On Our Planet, onde não só nos são mostrados todos os estragos feitos ao nosso planeta, mas também, e o que mais importa, como podemos solucionar o que fizemos.

A Sexta Extinção de Elizabeth Kolbert é um livro também muito real e um abre-olhos para o que estamos a fazer à natureza. A partir deste filme e deste livro, estou certo de que quererão informar-se mais sobre estes assuntos. Nesta busca pela informação, é importantíssimo termos espirito-crítico — saber diferenciar uma boa fonte de informação de outra. O meu conselho aqui é para não acreditarem cegamente em tudo o que leem (artigos/documentários sensacionalistas normalmente não são os melhores locais para encontrarem dados corretos). Procurem ter várias fontes de informação e estarem dispostos a ouvir e a discuti-las com alguém.

Onde gostarias de chegar com os teus projetos daqui a 1 ano? Destacas algum projeto em especial?

Essa é uma pergunta de difícil resposta. Estou a dar um passo de cada vez e a desbravar caminho. A minha grande paixão são os anfíbios, e durante o próximo ano irei continuar envolvido num estudo sobre a genética de um vírus que tem vindo a afetar severamente as populações destes animais. Planeio também continuar a ajudar a minha comunidade do Instagram | @ayalabotto | a fazer a transição necessária para uma vida mais sustentável. Quero dar às pessoas dicas fáceis de implementar e alertá-las para os desafios dos dias de hoje. De uma maneira muito simples — quero fazer as pessoas apaixonarem-se pela natureza!